Saiba por que furacões como o Milton perdem força quando tocam o solo.
O furacão Milton tocou o solo na Flórida na noite de quarta-feira (9), perdendo força, mas causando alagamentos em várias cidades e deixando um rastro de destruição, com 3 milhões de pessoas sem luz.
Segundo autoridades locais, pelo menos quatro mortes foram registradas. O olho do furacão já havia deixado a Flórida com ventos de cerca de 144 km/h.
Agora, o Milton segue em direção ao Oceano Atlântico, com a previsão de que se transforme em uma tormenta tropical.
Mas por que furacões perdem força quando tocam o solo?
“A principal razão pela qual os furacões enfraquecem quando chegam à terra é que eles não estão mais localizados sobre a água — e é a água morna do oceano que realmente alimenta e sustenta a tempestade”, diz Andra Garner, professora associada do Departamento de Ciências Ambientais na Universidade de Rowan (EUA).
Ou seja, de forma geral, dá para dizer que os furacões dependem da evaporação das águas quentes do oceano para se manterem “vivos”.
Dessa forma, ao atingir a terra, eles perdem essa fonte de energia vital. E como o ar sobre a terra é mais seco e contém mais partículas, isso também reduz a umidade no furacão.
Como resultado disso, a cobertura de nuvens diminui, e a circulação do ar é interrompida, o que dificulta o desenvolvimento das tempestades.
“Quando eles são cortados dessa fonte de combustível, eles normalmente começam a enfraquecer/dissipar ao longo do tempo”, acrescenta a pesquisadora.

Além disso, quando um furacão se desloca para latitudes médias (entre as latitudes tropicais), ele encontra águas mais frias, o que provoca um enfraquecimento adicional. Isso ocorre porque a água fria não fornece o calor necessário para sustentar a tempestade.
Outro fator importante é o cisalhamento vertical do vento, que é a mudança na direção ou na velocidade do vento em diferentes altitudes. Esse fenômeno pode misturar ar seco à tempestade, o que dificulta a intensificação do furacão.
Saiba por que furacões como o Milton perdem força quando tocam o solo
“Para ganharem força, os furacões precisam de um oceano muito quente para usar de combustível. Então, quanto mais quente o oceano, mais forte deve ser a tempestade”, diz Fábio Luengo, meteorologista da Climatempo.
Um baixo cisalhamento vertical favorece a formação de furacões, já que a velocidade e a direção do vento não mudam muito ao longo da troposfera, a camada mais baixa da atmosfera onde ocorrem os ciclones tropicais
Já um alto cisalhamento (como ocorre Atlântico Sul, na costa do Brasil) dificulta seu crescimento e pode fazer com que ele se enfraqueça ao invés de se fortalecer.
O que alimenta o furacão é a água quente do oceano. Quando ele atinge o solo, encontra mais obstáculos e não tem essa fonte de calor, o que resulta em uma rápida perda de intensidade. Não conheço nenhum caso em que isso aconteça de forma inversa. Por exemplo, um furacão pode estar na categoria 4 e, ao tocar a ilha de Cuba, cair para a categoria 2. Porém, se depois disso ele voltar ao oceano, pode se intensificar novamente.
— Fábio Luengo, meteorologista da Climatempo.
Como se formam os furacões?
Os furacões – ou ciclones tropicais, como são chamados pelos meteorologistas – são sistemas de baixa pressão atmosférica. Isto é, grandes massas de ar que giram em torno de um centro de baixa pressão intenso, provocando condições climáticas adversas em grande escala.
De forma menos técnica, o ciclone “puxa” o ar quente e úmido da superfície e joga para cima, formando nuvens de chuva.
Isso acontece porque o ar quente e úmido sobre o oceano sobe, criando a área de baixa pressão. O ar das áreas ao redor, com maior pressão, se move para essa área, aquecendo-se e subindo também. À medida que o ar quente sobe e se resfria, ele forma as nuvens.
Desse modo, todo o sistema de nuvens e ventos gira e cresce, alimentado pelo calor e pela evaporação do oceano.
Por isso, ciclones tropicais só se formam nas águas quentes do oceano próximas à Linha do Equador a pelo menos 5° – 30° de latitude norte ou sul da linha imaginária, onde a temperatura do mar é de pelo menos 27ºC.
Furacão Milton: Governador da Flórida avalia estragos provocado pela passagem do furacão

As águas aquecidas são justamente o que favorece o fortalecimento de furacões na região da Flórida, por exemplo. O estado, localizado na curva do Golfo do México, é diretamente impactado pela Corrente do Golfo.
“A Corrente do Golfo é uma corrente muito quente e super importante no mundo. Ela transporta água quente, se tornando um caminho favorável para os furacões”, comenta Luengo.
Pior temporada de furacões
Apesar das temporadas de furacões ocorrerem anualmente nos Estados Unidos, o rápido aumento da intensidade desses fenômenos e a frequência com que eles têm se formado chama a atenção dos especialistas.
Os eventos recentes mostram o que pode ser a pior temporada de furacões da história, com fenômenos muito intensos e grande potencial de destruição.
O furacão Milton, por exemplo, se tornou a terceira tempestade mais rapidamente intensificada no Atlântico com a reclassificação feita na segunda (7).